Luiz Carlos Bresser-Pereira, José Luis Oreiro e Nelson Marconi
Nota no Facebook e no Twitter, 8.3.2021
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A manchete do Valor é hoje é mais uma prova de bom jornalismo, mas é patética: “Mercado quer alta maior e imediata da taxa de juros”. É isso aí. O sistema financeiro-rentista está pedindo ao Banco Central que suba já a Selic.
Diz isto porque o controle da inflação estaria ameaçado pelo aumento dos preços das commodities e no atacado. Estaríamos diante de excesso de demanda e aumento da inflação que só pode ser interrompido pelo aumento da taxa básica de juros.
Diz isto porque rentistas e financistas estão inconformados com os juros muito baixos, negativos em termos reais. E para “provar” que estão certos, aumentam para 8 por cento a taxa dos juros futuros.
A economia brasileira viveu sob a égide de juros abusivamente altos desde a abertura financeira de 1992 até o último semestre de 2019. A justificativa era a inflação, embora ela tenha sido controlada em 1994.
Havia também o argumento do risco Brasil, mas já em 2001, em conjunto com Yoshiaki Nakano, eu iniciei uma batalha contra os juros altos e o câmbio apreciado mostrando que a taxa de juros básica era inferior ao risco Brasil.
Entre 1999 e 2012 a conta fiscal produziu superavits primários, a inflação foi controlada em 1994 e não voltou mais, mas os juros permaneciam estratosféricos; representavam um assalto ao patrimônio público.
A partir, porém, de 2014 o Brasil entrou em profunda crise econômica, a inflação caiu abaixo da meta, e os novos dirigentes do Banco Central, a partir de 2019, começaram a baixar os juros enquanto a moeda nacional se depreciava.
Apesar disto a crise econômica não foi superada, porque a desconfiança em relação ao governo é universal, reduz os investimentos e causa saída de dólares da economia.
O “mercado”, ou seja, os interesses financeiro-rentistas, não se conforma, Quer os seus juros de volta. A diretoria do Banco Central terá coragem de enfrentar a pressão? Até agora, teve. Vamos esperar que continue firme.