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Fidel Castro

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota na página do Facebook, 26.11.2016

Fidel Castro foi o grande líder da única revolução socialista que ocorreu na América Latina. Mas, como aconteceu com outras revoluções socialistas - a Soviética, a Chinesa -, não implantou em seu país o socialismo, mas um estatismo igualitário e autoritário.


Fidel Castro foi o grande líder da única revolução socialista que ocorreu na América Latina. Mas, como aconteceu com outras revoluções socialistas – a Soviética, a Chinesa –, não implantou em seu país o socialismo, mas um estatismo igualitário e autoritário. Diferentemente, porém, do que aconteceu nos outros dois casos, não houve em Cuba a segunda transição, do estatismo para o capitalismo, e, portanto, o sistema igualitário não foi substituído pela desigualdade capitalista.



Originalmente a revolução de Fidel Castro não era principalmente socialista, mas nacionalista. Visava substituir o sistema político autoritário e corrupto de seu país, que contava com o completo apoio dos Estados Unidos. E buscava também diminuir as desigualdades em Cuba, que eram gritantes. Com esse objetivo, ele determinou a nacionalização de diversas empresas americanas – algo que o Império Americano não aceitou. O grande sociólogo americano, Wright Mills, passou alguns meses em Cuba logo após a revolução, e escreveu um pequeno e impressionante livro, Listen Yankee, no qual argumentava que a reação do seu país às nacionalizações estava empurrando Castro e Cuba para o comunismo e a associação com a União Soviética. Seu apelo foi inútil, e Fidel Castro integrou-se no bloco soviético, ao mesmo tempo em que o estatismo, dominado por uma tecnoburocracia pública, tornou-se dominante.



Ao fazer essa escolha, Fidel Castro pode ter errado, mas não deixou de ser um dos grandes e admiráveis líderes políticos do nosso tempo – um nacionalista cívico e econômico, não um nacionalista étnico; um socialista comprometido com seu povo e com a ideia de justiça.



Ele gostaria de ter implantado a democracia em Cuba, mas ainda não se encontrou uma forma de aliar um alto grau de igualdade com a democracia, esta definida pelo respeito aos direitos civis e o sufrágio universal. Em outras palavras, ainda não se logrou construir um socialismo democrático. Nem o estatismo foi capaz de produzir desenvolvimento econômico a partir de um certo ponto do desenvolvimento de um país.



Em Cuba ainda existe, como existia na União Soviética e na China pré 1980, um elevado grau de igualdade econômica. Os privilégios da tecnoburocracia pública são muito menores do que os dos ricos no capitalismo. Mas os cubanos pagam por isso um duplo preço: o autoritarismo e o baixo nível de desenvolvimento econômico. O planejamento estatal é capaz de promover o desenvolvimento da infraestrutura e das indústrias de insumos básicos, mas, quando essa etapa é ultrapassada, e se trata de desenvolver setores econômicos complexos e diversificados, o mercado é uma instituição claramente superior. Já o capitalismo conseguiu ser compatível com a democracia, ainda que uma democracia de baixa qualidade, e revelou-se claramente mais eficiente em promover o desenvolvimento econômico.



Estas duas vantagens, principalmente a segunda, foram determinantes para que União Soviética e China fizessem sua transição para o capitalismo. Cuba vem resistindo a essa mudança. Seus líderes hoje adotam a China como modelo. Querem primeiro fazer a abertura econômica, para, depois, pensar na abertura política. Esta é certamente uma forma mais sensata do que aquela que a Rússia adotou. Ao esquecer que o Estado é uma instituição superior ao mercado, ela tentou fazer as duas transições – econômica e política – ao mesmo tempo, e o resultado foi o caos e dez anos de retrocesso econômico.



O povo cubano fará grandes homenagens a seu líder que ontem morreu. Ainda que não concorde com a escolha que fez – preferir a igualdade à democracia – entendo que ele merece essas homenagens. Ele foi um forte e incansável defensor da justiça em um mundo muito injusto.