CINEMA

  • 01-2021-capa-new-developmentalism
  • 11-1992-capa-a-crise-do-estado
  • 05-2009-capa-mondialisation-et-competition
  • 2006-capa-as-revolucoes-utopicas-dos-anos-60
  • 04-2016-capa-macroeconomia-desenvolvimentista
  • 07-2004-capa-democracy-and-public-management-reform
  • 13-1988-capa-lucro-acumulacao-e-crise-2a-edicao
  • 09-1993-capa-reformas-economicas-em-democracias-novas
  • 03-2018-capa-em-busca-de-desenvolvimento-perdido
  • 10-1998-capa-reforma-do-estado-para-a-cidadania
  • 05-2009-capa-globalizacao-e-competicao
  • 05-2010-capa-globalixacion-y-competencia
  • 2014-capa-developmental-macroeconomics-new-developmentalism
  • 02-2021-capa-a-construcao-politica-e-economica-do-brasil
  • 15-1968-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1967
  • 09-1993-capa-economic-reforms-in-new-democracies
  • 10-1999-capa-reforma-del-estado-para-la-ciudadania
  • 06-2009-capa-construindo-o-estado-republicano
  • 01-2021
  • 08-1984-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1983
  • 16-2015-capa-a-teoria-economica-na-obra-de-bresser-pereira-3
  • 17-2004-capa-em-busca-do-novo
  • 05-2010-capa-globalization-and-competition
  • 12-1982-capa-a-sociedade-estatal-e-a-tecnoburocracia

Sim, a compaixão é essencial

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no Facebook, 30.7.2017.

.


Está sendo exibido em São Paulo o último filme de Terence Malick – De Canção em Canção – uma obra-prima de um grande artista que, com grandes intervalos, escreve e dirige filmes extraordinários. Este último equipara-se a Cinza do Paraíso ou a O Novo Mundo. É um filme de uma beleza plástica extraordinária, que não fica nada a dever ao melhor Godard; de uma tensão dramática igual à que encontramos em Hitchcock, embora sem que haja suspense. Mas o que me impressionou, além de uma criatividade artística que nos surpreende e nos maravilha por duas horas, é a angústia individualista dos personagens que o filme mostra. É a busca incessante de uma “liberdade” que afinal não liberta ninguém. É a busca da liberdade ou da realização pessoal que caracteriza o homem contemporâneo, individualista ao extremo, neoliberal. Uma busca que apenas o torna infeliz – prisioneiro de sua própria angústia.

Vendo esse filme eu não pude deixar de me perguntar o que é a liberdade, o que é a felicidade. Não vou responder a esta questão nesta pequena nota, mas tenho certeza que a resposta não é o individualismo possessivo que tomou conta da contemporaneidade, principalmente nos Estados Unidos. Na teoria política existe a oposição entre a liberdade liberal e a liberdade republicana. A liberdade liberal é a de fazer o que você pode, fazer o que quiser e puder, desde que não seja contra a lei; a liberdade republicana é outra coisa: é a de você ser capaz de adotar posições e realizar ações que não consultam a seus interesses pessoais, mas ao interesse público. Na filosofia clássica, a felicidade não é a satisfação de todos os seus desejos ou de todos os seus direitos, mas é a realização dos seus deveres para com os outros, é relacionamento humano e solidariedade. Não é o cinismo, mas a utopia.

Malick não diz isso expressamente em seu filme. Mas seu personagem principal – uma mulher – diz uma coisa fundamental. Afinal ela descobriu que precisa, e muito, de uma coisa que ela pensava que nunca precisaria – de compaixão. Sim, a compaixão é essencial. Precisamos ser compassivos e receber compaixão. O mundo contemporâneo, em oposição ao mundo moderno, não sabe o que é a compaixão, acredita na liberdade liberal e na felicidade individualista, perdeu a utopia. Pobre e angustiado mundo contemporâneo.